Encontrar alguém não é a nossa maior questão amorosa

Por Juliana dos Santos Soares

08/05/2020

 

 “Encontrar alguém… que me dê amor!…”

Esses versos da canção do Jota Quest são os escolhidos para nos guiar em mais uma reflexão a respeito da busca pela felicidade amorosa. Eles deram título à roda de conversa online cujo tema é o que buscamos nos relacionamentos amorosos, e eu gosto muito de refletir embalada por uma boa trilha sonora. Se quiser escutar a música também (no Spotify), clique aqui.

O desejo e busca por felicidade amorosa são tema muito presente na nossa condição humana. Hoje abordo a ideia de que a grande questão sobre ser feliz no amor, ao contrário do que muitas/os de nós pensamos, não consiste em “Encontrar alguém”.

Me inspiro nos escritos do psicanalista Erich Fromm em seu livro “A arte de amar”, editado em 1956 (pela idade da obra, é natural que haja algumas ideias ali já muito ultrapassadas, mas a essência do que o autor traz é muito atual, e acredito que de muita utilidade para nós, seres humanos vivendo em pleno século 21). Segundo Fromm, nós cometemos alguns enganos frequentes a respeito do amor, dentre eles:

  • Consideramos que a questão é ser amadas/os, quando na verdade a questão é amar.
  • Consideramos que a questão está no objeto de amor – tipo “encontrar alguém”, “a pessoa certa”, e quando a encontrarmos, viveremos isso lindamente. Quando, na verdade, o que importa é o que vem na sequência e vai além desse encontro, a questão é amar.
  • Vivemos em uma cultura que se baseia no apetite de consumir vorazmente, e levamos isso também para o campo do amor. Mas isso não é amar.
  • Confundimos a experiência da paixão, comum nos primeiros momentos de qualquer relacionamento amoroso, com amar, e o amor é diferente da paixão, envolvendo muito mais coisas.

Mas o que é realmente amar?

Como o próprio título do livro citado diz, para E. Fromm o amor é uma arte. Não é um afeto passivo, algo que sentimos e que nos faz bem – é claro que existe esse componente do amor, mas amar é muito mais do que isso. Como arte, o amor é uma ação que se executa, uma atitude que levamos para todos os nossos relacionamentos (não apenas os afetivo-sexuais, mas todos). Sendo uma arte que existe em ação, há que ser praticado para se aprimorar. É assim quando se deseja dominar uma arte, não é? É necessário estudar a teoria – no nosso caso, se interessar pelo que estudiosas/os dizem sobre o amor e refletir sobre ele – e praticar insistentemente.

Isso significa considerar que nós não “nascemos sabendo” amar, mas vamos aprendendo com nossas experiências. Também significa que toda experiência amorosa – as que consideramos felizes e também as dolorosas – têm força e fazem parte da nossa caminhada, e que não é legal entender os desencontros da nossa vida como um sinal de que valemos menos como pessoas – um outro engano que vejo acontecer demais nas histórias que testemunho.

Assim, nossas vivências amorosas não nos definem. Não há “pessoas especiais”, que “encontram o verdadeiro amor” bem cedo na vida, e “a ralé do amor”, que tenta e erra, tenta de novo e erra de novo, como se fossem pessoas sem valor e destinadas a ficar sós. E nem há “aquele alguém” que, quando encontrado, encherá a nossa vida de felicidade sem fim. Existem, sim, relacionamentos mais ou menos saudáveis, proporcionando maior ou menor alegria às pessoas envolvidas. Existem questões nossas, individuais, relacionais e sociais, que precisamos olhar com atenção a fim de viver o amor de maneira mais feliz. E isso é coisa de todo mundo, cada um/a com suas particularidades, claro.

Vamos conversar mais?

Continuo esse texto em outro post, em que abordo mais o que seria viver esse amor. Para continuar a leitura, clique aqui.

Enquanto isso, deixo uma outra inspiração musical, fazendo uma mudança no tom: O negócio é amar, composta por Dolores Durán e Carlos Lyra, aqui interpretada por Nara Leão e Roberto Menescal – clique para ouvir no Spotify.

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