Quem procura, acha!

Sobre a importância de saber o que se busca em processos de crescimento, para reconhecer (e agarrar!) quando encontrar

Por Juliana dos Santos Soares

14/03/2018

Recentemente, um paciente chegou para sua sessão propondo a interrupção do processo terapêutico. Me expondo as razões que o levaram a essa proposta, concluiu que aquilo que ele buscava, quando veio me procurar, tinha sido alcançado. Um resumo de sua fala: “Estou satisfeito. Podemos encerrar. Obrigado”. Eu, que muito aprecio ver pessoas crescendo e se realizando pessoalmente, acompanhei sua avaliação e concordei, com alegria. Compartilhei com ele alguns pensamentos a respeito de inícios e términos de psicoterapias, que hoje quero compartilhar por aqui também.

Sobre saber buscar

Desenvolvemos, nos últimos tempos, um grande gosto por buscar. Buscar o sentido da vida, formas mais felizes de viver, ser pessoas melhores – às vezes em termos de produtividade, às vezes no sentido moral, religioso/espiritual, às vezes na procura pela felicidade. Temos nos tornado, cada vez mais e num sentido mais refinado, buscadoras e buscadores.

Quando penso nesse fenômeno, lembro-me da pirâmide de Abraham Maslow. O psicólogo propôs um diagrama de hierarquia das necessidades humanas, conforme essa ilustração:

Segundo Maslow, buscamos satisfazer, em primeiro lugar, as nossas necessidades mais básicas, aquelas da base da pirâmide. Quando elas são atendidas (pelo menos em parte), passamos a buscar a satisfação da próxima camada de necessidades, num esquema crescente, até chegar àquelas mais sofisticadas, as do topo da pirâmide.

Pois bem. Como humanidade em evolução, percebo que temos tido nossas necessidades fisiológicas, de segurança e de relacionamentos cada vez mais atendidas (pelo menos de forma mais interessante do que em nosso passado), de modo que temos mais tempo e energia vital para nos dedicarmos a aprimorar essas conquistas e ir atrás de nos satisfazer em termos de estima, confiança, respeito e realizações pessoais.

Frente a tamanha demanda, abundam ofertas de recursos. Mais e mais pessoas procuram os consultório de Psicoterapia e Psicanálise. Há uma aumento de literatura e outras mídias sobre autoconhecimento e autoajuda. A cada dia, surgem atividades terapêuticas, não necessariamente ligadas à Psicologia, que promentem levar as pessoas a se sentir melhores com relação a seus problemas e sintomas, ou a se realizar mais plenamente.

E frente a tanta oferta, penso que é fundamental saber o que estamos buscando. Os caminhos que podemos percorrer em busca de cura e realização pessoal são muito bonitos, fascinantes mesmo, e percebo uma tendência a nos apaixonarmos pela busca, perdendo-nos do nosso objetivo. Há uma frase famosa que diz que “quem procura, acha”. Mas se estamos apaixonadas/os pela busca em si, é bem possível que encontremos coisas importantes e não nos apropriemos delas, embarcando logo no próximo capítulo/experiência de nossa aventura buscadora.

Sobre saber encontrar

Fazer as perguntas certas aumenta as chances de encontrar boas respostas.

Vou exemplificar com a Psicoterapia, porque é a área em que atuo e por isso domino bem.

A Psicoterapia pode servir aos seguintes objetivos:

  • Tratar de patologias, como transtornos de humor (por exemplo a depressão), transtornos de ansiedade ou síndromes. Nesse caso, busca-se a remissão de sintomas e o tratamento daquilo que está por trás desses sintomas e que pode estar gerando o quadro.
  • Lidar de forma mais satisfatória com aspectos da vida que podem estar resultando em sofrimento, como: trabalho; relacionamentos familiares ou amorosos; a relação da pessoa consigo mesma, sua autoimagem, expectativas e aceitação; atravessar períodos difíceis da vida. Nesse caso, trata-se de um trabalho mais ligado a autoconhecimento e crescimento, e não a tratamento.

Nos dois tipos de abordagem acima, é muito importante ter um norte que oriente a busca de terapeuta e paciente. E perceba, é a partir desse norte que podemos, constantemente, avaliar se o processo terapêutico está fazendo efeito, se está levando a pessoa até onde ela deseja ir.

Você sabe aonde quer chegar? Como faz para se nortear?

Portanto, a dica é prestar muita atenção ao que você precisa, a qual é a sua demanda quando busca uma Psicoterapia ou mesmo outra atividade de trabalho interno.

Demandas podem mudar com o tempo, e é comum que isso aconteça. Mas isso não diminui a importância de se estar “de olho” em qual é o norte do processo.

Tendo isso em mente, é mergulhar nesse caminho de autoconhecimento, descoberta e crescimento.

Pode ser que demore. Pode ser que você nem encontre o que busca num único processo terapêutico, mas que consiga dar alguns passos na direção do seu objetivo.

Mas uma hora você encontra o que buscava. E quando isso acontecer, não deixe passar. Aproprie-se! Receba, valorize, agradeça. Novas buscas virão, em outros momentos, mas é muito bom ter a sabedoria de poder dizer: “Estou satisfeita/o. Podemos encerrar”.

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