Por Juliana dos Santos Soares
10/08/2017
Estamos na semana do dia dos pais, e eu escolho escrever sobre esse tema tocada pelo novo filme dirigido pelo Selton Mello, “O filme da minha vida”, que acabou de ser lançado e fala da vida de um rapaz, Tony Terranova, e da sua relação com o pai. Achei um filme bonito, e penso que o Selton Mello tem se aproximado do universo “psi” de uma forma muito interessante – antes ele já tinha dirigido “O palhaço” (2011), que também trata da relação pai-filho e a série “Sessão de Terapia” (2012-2014). Não sou crítica de cinema, e aqui farei alguns comentários bem psicológicos mesmo.
Reflito sobre o papel do pai na nossa vida. Na Psicologia, pensamos na função paterna (aquilo que aprendemos com nosso pai ou figura que o substitua, na falta dele) como fundamental para o desenvolvimento da autonomia. Enquanto a função materna tem a ver com acolhimento e cuidado, e com ela aprendemos a identificar e atender nossas necessidades, com o pai nós aprendemos a identificar nossos desejos e ir atrás deles, a caminhar sobre nossas próprias pernas, a ser protagonistas da nossa história.
Um dia a idealização que tínhamos de nossos pais se quebra. Normalmente é assim. Percebemos que ele não é um super-herói. Em muitos casos, essa desidealização corresponde a um choque. A imagem do pai passa de herói a um homem pequeno. Quando na verdade ele é um homem, humano, com sua força e sua vulnerabilidade. Alcançar o equilíbrio de vê-lo assim é tarefa importante de amadurecimento.
Ao assistir a “O filme da minha vida”, vejo que ele mostra isso. O menino Tony (Johnny Massaro) adora o pai, e com ele aprende importantes lições que leva para a vida. Quando Nicolas (Vincent Cassel), o pai, deixa a família para voltar para a França, sua terra natal, o rapaz sente-se abandonado e passa boa parte do filme em clima melancólico, de procura pelo pai e questionamento pela razão da partida. “Nenhuma ausência é tão cara quanto a tua”, ele diz na carta em que se despede do pai, em tentativa de elaboração do vazio.
Há uma fala que se repete: “Antes eu só via o início e o fim dos filmes. O início, para conhecer a história. O fim porque é sempre bonito”. Mas é no meio que a ação acontece. E em um dado momento Tony pára de procurar pelo pai e vai encontrar o mundo. Vai tomando o papel central no filme da sua vida, esse papel que são os pais que nos ensinam a tomar. E passa de menino a homem. Assume sua autonomia, percorrendo ativamente o seu caminho.
Reconstrói a imagem do pai, que já não é mais um herói, mas um homem. Mas isso já encaminha o filme pro final. E “o final eu não posso contar”…
Ao escrever esse texto, reflito com carinho na minha relação com meu pai. A distância sempre esteve presente. Com ele aprendi muito sobre o amor, de perto e de longe, e sobre correr atrás daquilo que me interessa. A suportar e a encurtar as distâncias, inclusive entre meus sonhos e sua realização.
Muito grata, pai.
Um Viva aos nossos pais. Onde quer que eles estejam.
Um Viva à nossa autonomia!
Imagens: Youtube