Sobre lidar melhor com nossas dores emocionais

Por Juliana dos Santos Soares

25/09/2017

A forma como lidamos com nossas emoções e sentimentos é alvo da minha atenção há tempos. Percebo, como psicóloga, que grande parte de nós não tem uma relação saudável com o próprio mundo emocional, especialmente no que se refere ao que chamamos de sentimentos ruins, como tristeza, raiva, inveja, ciúme, vergonha, medo… Aqueles que nos fazem sentir frágeis, que nos abalam. E penso que uma boa educação emocional é a base para nos sentirmos melhor nessa vida.

Apresento esse vídeo, da pesquisadora americana Brené Brown, em que ela aborda a vulnerabilidade – nossos pontos frágeis – e como normalmente nós a evitamos. Ative as legendas e assista! Vale a pena. Se tiver oportunidade e interesse pelo tema, leia os livros dela, eu já os li e acho muito bons!

Nós temos uma grande tendência a negar e esconder as nossas dores emocionais. É como se fosse errado ou muito estranho sentir essas coisas; como se fôssemos muito diferentes da maioria das pessoas, ou de um ideal do que é ser “normal”. Assim, a tendência é nos isolarmos quando nos sentimos assim, sob a lógica de que se as pessoas nos virem desse jeito, não receberemos aceitação e/ou amor delas.

Aqui cabe uma ressalva. Aliás, duas: Primeiro, realmente é difícil entrar em contato com a dor. Machuca. E temos um impulso natural de evitá-la. Segundo: a maioria de nós já passou por momentos de duras críticas ou mesmo zombaria (bullying) por demonstrar suas fragilidades. Nossa sociedade atual vende uma ideia de felicidade mais ou menos assim:

Como se estar “bem” fosse estar o tempo inteiro sorrindo, sem incômodos. Não há muita abertura para se falar das dores emocionais. Todo mundo quer passar a ideia de sucesso e força, é difícil mesmo compartilhar as vulnerabilidades. A não ser em espaços de intimidade.

E aí, achamos muito estranho quando ficamos assim:

Então esse comportamento de esquiva não é condenável. Mas traz consequências ruins.

Negar ou mascarar nossos sentimentos não resolve nossos problemas emocionais. Na maioria das vezes, é como uma bola de neve que vai crescendo. Os sentimentos negligenciados continuam existindo e passam a ter uma força cada vez maior dentro de nós. Sem aceitá-los, nós não temos recursos para elaborá-los e, assim, lidarmos com eles de forma mais satisfatória. Para “dar conta” desse estado de humor, nós nos distraímos. Comemos demais, bebemos demais, consumimos demais, passamos tempo demais nas redes sociais, maquiamos nossa vida de maneira a parecermos mais “normais” e “felizes” (ou o que achamos que isso quer dizer) do que de fato somos.

Quando negamos nossas dores emocionais, ficamos com um incômodo latente, uma espécie de tristeza por razão nenhuma. Na verdade, ela tem razão ou razões, mas como nós não olhamos para ela diretamente, ela aparece de forma inespecífica. E aí, acontece de por vezes ficarmos reféns dela. Nos afundamos. Nos perdemos de nós.

E aí? O que fazer com isso?

Aqui vai uma perspectiva que considero importante, no sentido de “virar esse jogo”:

  1. Aceitar suas dores emocionais. Você não é uma exceção pelo fato de tê-las. Todos(as) nós sofremos. Tristeza, mágoa, decepção, desesperança são parte da vida de todo ser humano. Mesmo que isso não apareça na superfície.
  2. Aceitar não é acomodar-se. Converse sobre seu mundo emocional. Encontre alguém de confiança (um(a) terapeuta competente, um(a) amigo(a) com boa capacidade de escuta e intimidade) e fale sobre aquilo que sente. Em primeiro lugar, apesar de difícil, é aliviante colocar pra fora. Em segundo lugar, falar sobre seus sentimentos e emoções (especialmente se tiver apoio profissional) te ajuda a compreender melhor a si mesmo(a). A saber identificar e nomear o que sente, em que condições aparece, do que você precisa quando se sente assim e, especialmente: que vai passar. Sempre passa. Nossos sentimentos podem nos machucar, mas eles não definem quem nós somos. Não é fácil, mas falando sobre nossas dores e elaborando-as, nós ganhamos mais domínio sobre nossa vida emocional e, consequentemente, tornamo-nos mais fortes. Ainda seremos feridos e feridas nessa vida. Mas saberemos lidar melhor com isso. Ainda quebraremos a cara muitas vezes (a vida é assim). Mas teremos a dignidade de juntar os cacos, recolocá-los no lugar e seguir adiante.
  3. Construa pontes. Não se isole. A conexão com outras pessoas é um recurso e tanto para compreendermos melhor a nossa humanidade. Mas esse é um assunto que, de tão importante, vou abordar de forma mais detalhada no próximo texto.

 

Imagens: Pixabay

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