Família e a nossa maneira de amar

Por Juliana dos Santos Soares

02/06/2017

Gente que se sente amada quando recebe cuidados básicos. Quando recebe abraços, beijos e carícias. Quando escuta palavras de amor e incentivo. Quando se sente admirada. São tantas formas diferentes de receber e de dar amor!… E nem sempre o que chega a uma pessoa como um ato amoroso chega a outra da mesma maneira.

Amor não tem manual de instruções, não há uma forma certa de se fazer. Aprendemos o que é isso na prática, e tudo começa nas nossas primeiras experiências de amor. Sim, é lá, na família, que estão fincadas as raízes de quem nós somos, da forma como conduzimos nossa vida e de como vivemos o amor. E cada família, em cada cultura, tem um linguajar próprio e modos específicos de manifestar carinho e afeição.

Na experiência com mãe e pai (ou, claro, pessoas que os substituam) aprendemos como é nos sentirmos amadas. Desenvolvemos nossa autoestima: a partir do amor que nos habituamos a receber, nasce o amor por nós mesmas, o valor que atribuímos a nós. Vendo as manifestações de afeto do casal em torno de nós, entendemos que aquilo é amor conjugal, é assim que as pessoas se amam. E assim começa a se definir o amor. Começamos a criar, dentro de casa, o nosso “jeitão” de relacionar, que envolve sentimentos e crenças. E é com esse “jeitão”, ou padrão relacional, que ganhamos o mundo e expandimos as nossas relações: coleguinhas de escola, amigas e amigos, até começarem as paixões e parcerias do amor romântico.

Procuramos amor na forma como reconhecemos amor na nossa vida. Por exemplo, se tenho comigo a crença de que estar vulnerável me coloca em risco, não vou me entregar de verdade em relacionamento nenhum, e provavelmente vou enxergar nas outras pessoas sinais de que não posso confiar (e talvez eu viva relacionamentos que confirmem essa verdade em mim). Ou se estou acostumada a “ser o centro das atenções” na minha história, tenderei a reproduzir isso, reconhecendo amor quando sou “paparicada” e me sentindo rejeitada quando a outra pessoa não me olha com toda essa admiração (ou quando ela também precisa de atenção).

Claro, na medida em que crescemos vamos somando outras influências no nosso referencial amoroso: modelos da cultura e de outros amores que presenciamos no nosso entorno, outros aprendizados. Mas, utilizando a metáfora de uma árvore, a família é a nossa raiz. É ali que está a nossa base para crescer e nos desenvolver.

E quando nossos modelos já não nos servem ou agradam, ou ainda quando eles nos trazem sofrimento na vida amorosa?

É importante avaliar esses modelos familiares. Questionar. Compreender que esse jeito é só um jeito. É o jeito como aprendemos, por isso é muito forte na nossa vida, mas existem outras maneiras de viver o amor. Ressignificar crenças, experimentar responder de outras formas na vida, criar uma outra realidade.

(Eu escrevi sobre padrões de comportamento e mudanças consistentes aqui, vale a pena conferir)

Voltando à metáfora da árvore, nossas raízes estão ali, na família, e não podemos trocar de raízes. São elas que nos dão sustentação. Mas podemos podar os galhos, adubar a terra e posicionar essa árvore de modo a tomar mais ou menos sol. Podemos moldar a copa de modo a ser uma árvore bem mais bela do que achávamos que poderia ser. E que pode dar bons e doces frutos.

Se há valores quanto ao amor na sua família de origem com os quais hoje você não concorda, não há como anular a família. Pelo contrário, é importante olhar para ela e para os valores que ela te traz e, a partir daí, com raízes fortes, imprimir as suas características pessoais no seu jeito de amar.

Desejo a você e a todas nós uma vida plena de amor! Uma árvore com raízes firmes e gratidão por elas, um tronco forte e flexível ao mesmo tempo, uma copa frondosa e frutos suculentos!

Obs: Esse texto foi escrito com grande contribuição de Ana Martins, em nossos estudos sobre o amor, e é a base do primeiro encontro do workshop terapêutico “Era uma vez o amor…”. 

Obs. 2: Eu me importo com questões de gênero, inclusive quando escrevo. Por isso, quando me refiro a pessoas, escrevo no feminino.

Imagens: Pixabay