Por Anna Cláudia Eutrópio
11/10/2018
A saída da infância para a adolescência é uma fase em que muitas mudanças acontecem e nem sempre as famílias compreendem. A metáfora que eu gosto para traduzir essa transição é a da troca do exoesqueleto. Como que é isso? Alguns insetos tem um exoesqueleto, que são tipo aquelas cascas de cigarras que a gente vê em alguns galhos de árvores. Esse exoesqueleto protege o inseto e o sustenta. Fica confortável enquanto ele está num determinado tamanho. Para crescer, o inseto precisa perder o exoesqueleto, aumentar de tamanho e, então, construir um exoesqueleto que seja confortável para seu novo porte. A transição da infância para a adolescência é exatamente o momento em que você perde um exoesqueleto que te era confortável e ainda não construiu um novo exoesqueleto que vai te proteger para os novos desafios do seu novo tamanho. Então você fica um tempo “na carne viva”, sem uma proteção mais dura, sem uma casca que te sustenta. É um momento em que as emoções estão a flor da pele, que seus comportamentos estão mais inseguros já que ainda não tem a estabilidade de uma “casca” já construída. E, paralelamente, uma série de comportamentos e coisas que davam certo e que funcionavam num determinado período da vida não funcionam e não dão certo mais: você precisa largar esse exoesqueleto. Por outro lado, o novo exoesqueleto ainda não tem uma história e experiência para definir o que que dá certo e o que funciona.
Esse período de transição gera muita incerteza e muita dúvida e aí a pessoa oscila no pêndulo entre ir para a infância e ter alguns comportamentos infantis e ao mesmo tempo querer ser adulto e ter comportamentos que são além da sua idade. É uma experimentação de papéis para encontrar aquele que cabe nessa fase da vida. Tem uma poesia que se chama O Intermediário que diz disso: o adolescente é o intermediário da vida e escuta muito: “Pare com isso, você não é mais criança. Ainda não! Você é só um adolescente”. Entre esses duas consignas ele tem que responder: o que eu sou?, o que eu posso?, o que eu dou conta?, o que já é pra mim?, o que que não é mais pra mim?
Como família, o quanto mais a gente puder acompanhar, conversar, orientar, esclarecer as dúvidas e explicitar as ambivalências de uma fase que é de transição, mais saudáveis e seguros os nossos filhos vão ser para entrar na adolescência.
Com nosso apoio eles podem crescer e construir um novo exoesqueleto que os proteja e sustente para as novidades da adolescência: a vivência da sexualidade; a centralidade dos amigos como referência; a mudança na relação com os pais e com a família; os desafios da escolha de projetos profissionais.
Um exoesqueleto firme permite que os jovens não cedam a pressão do grupo e tenham discernimento e sabedoria para saber quais são suas raízes, quais são suas verdades, quais são suas opiniões. A questão é suportar o tempo de “carne viva” e fazer desse período uma oportunidade para o desenvolvimento integral.
INTERMEDIÁRIO
Sou o meio termo da vida
Nem criança, nem adulto
Geralmente não sou levado a sério
E, muitas vezes, aguento insulto.
“Pare com isso, você não é mais criança”
“Ainda não! Você é só um adolescente”.
Ser logo adulto é uma esperança
Não ser criança é uma luta intermitente.
Intermediário? Por que não?
Se a natureza também passa por fases
Nessa escalada, pra que me apressar em vão?
Quero me deleitar nestes momentos fugazes.
Autora: Teresinha Lello ( Ex- Secretária de educação de São Paulo)
Obs.: Texto publicado na Revista Anchieta em Casa de outubro de 2018 e no site Nós e Voz, e reproduzido aqui com a autorização da autora.
Imagens: Pixabay