Por Dolores Pena
26/11/2020
Todos sabemos da importância da comunicação nas relações interpessoais em distintos contextos, mas nem todos se detêm a esse aspecto comunicacional nas relações amorosas.
O diálogo caracteriza-se pela comunicação entre duas pessoas, com o objetivo de compreenderem uma mensagem, ou de se compreenderem a partir de mensagens. Implica em fala e escuta de ambas as partes e na capacidade de interpretação das mensagens por cada parte, quer seja, o emissor e o receptor.
Nos relacionamentos amorosos o diálogo é essencial para que o AMOR amadureça enquanto amadurece a própria relação do casal. Nesse contexto em que o amor é o elo afetivo, e que podemos dizer que é também a lógica da relação, esta se estabelece sobremaneira com o diálogo!
Cada um do casal traz consigo, para a construção do NÓS, uma “bagagem”, aqui considerada a mensagem a ser comunicada e também a ser compreendida pelo(a) outro(a). As mensagens abarcam os valores, as crenças, a cultura familiar, os coeficientes emocional e intelectual, a visão de mundo, interno e externo… toda a história individual de cada um.
A decisão por tomarem o caminho da vida a dois haverá de ser pelo desejo de viverem juntos na perspectiva do AMOR e essas bagagens serão intercambiadas até que co-construam as premissas do casal (Eu-tu) e da nova família (Nós). Do ponto de vista individual, nada será tão importante que não possa ser deixado, assim como não é tudo que deva ser aproveitado na vida a dois. Para caminharem juntos serão prudentes e necessárias algumas adaptações, de um e de outro. Ainda que o amor não seja a premissa da construção da nova vida do casal (porque existem outros motivos), a boa qualidade dessa relação dialógica oportunizará a co-construção de uma relação essencialmente amorosa. Por outro lado, sendo o amor a premissa da vida do casal, ainda assim, se faltar DIÁLOGO, a relação dificilmente se mantém funcional e saudavelmente. Ou seja, o diálogo é fundamental na estruturação do casal e da família, para que o amor não apenas amadureça, mas para que sobreviva nas múltiplas relações familiares. Especialmente para a organização e reorganização do casal no momento da chegada dos filhos e frente a situações adversas (mudanças na rotina do casal), o diálogo será o instrumento de comunicação e compreensão mais necessário.
O diálogo eficaz pressupõe uma atitude de esvaziamento de si, exige uma boa vontade das partes para abrirem mão do desejo de disputa pela “razão” e uma atitude de abertura significativa para o “querer saber”… de si e do(a) outro(a), dos sentimentos, ideias e dificuldades das partes.
O diálogo, essa forma de comunicação tão essencial, ainda é pouco vivenciada pelos casais amorosos, a despeito das informações e do que se quer saber e aprender sobre conhecimento mútuo e relacionamentos.
Na ausência total do diálogo o amor perece!
Nas suas dificuldades em dialogar o casal padece… haverá sofrimento e comumente a separação acaba sendo percebida como inevitável.
Realmente não é fácil dialogar…
Observemos que no diálogo estarão contidas todas as nuances de duas histórias de vida, de duas identidades.
Ao se unirem, o propósito do casal será o de verificar nas suas bagagens individuais, desde o desejo de ter, ou de não ter, filhos até e especialmente como pretendem organizar seus projetos (individuais e coletivos) e a educação dos seus filhos. Evidentemente que não pressupomos que os diálogos funcionem como as famigeradas DR’s. As “discussões das relações” quase sempre consistem em transferências de responsabilidades e projeções de dificuldades internas; quanto mais hostil, mais reativo se torna o casal. Os diálogos caracterizam em si o desejo de entendimento, compreensão e oportunizam o verdadeiro processo de conhecimento mútuo. Homens e mulheres numa relação amorosa podem e devem crescer juntos. O propósito não é o da complementaridade. Pressupõe-se que cada parte esteja comprometida com a sua própria evolução pessoal (profissional, inclusive) e com o desenvolvimento da relação conjugal. A vida nos favorece o tempo necessário, entretanto nem todos o querem aproveitar a favor deste propósito: manterem-se amorosos! Um fator de risco para os casais ainda é a falta de tempo dedicado à própria relação, o tempo de dedicação de um para o outro. Gosto de valorizar o tempo dedicado “intencionalmente” para que se dê o diálogo do casal, assim como a “intenção” de manter a qualidade amorosa nas relações.
A manutenção do amor nas múltiplas interrelações familiares dependerá da qualidade da relação comunicacional do casal…
Importante lembrar que nenhuma história é melhor do que outra (ninguém é melhor do que ninguém), a diferença está nas facilidades versus dificuldades de cada um, não só referente à disposição para dialogar, mas nas causas mais prováveis que a deram/dão origem. As mais prováveis referem-se à autoestima, ao conceito auto valorativo e à capacidade de lidar com as emoções e adversidades.
Conhecendo-se mutuamente espera-se que o casal desenvolva, para além do amor, a compaixão recíproca. Compadecer-se é um sentimento virtuoso que se refere à capacidade de “colocar-se no lugar do outro” de forma sensível e acolhedora.
A capacidade de “inversão de papéis”, de acordo com a abordagem psicodramática, é um referencial teórico e prático para o desenvolvimento das relações interpessoais muito utilizada na terapia de casal. Essa terapia visa facilitar especialmente a comunicação do casal; ao adquirirem o hábito de dialogarem, o terapeuta terá realizado com sucesso a maior parte do seu trabalho. Enquanto não há disposição para o “diálogo” os casais estarão colocando em risco seus relacionamentos amorosos!
Muitas vezes o casal recorre à terapia de casal e posteriormente continuam em processos de psicoterapia individual, o que pode ilustrar o quanto uma relação de casal, amorosa, promove o amadurecimento e infinitas oportunidades de evolução e crescimento pessoal. O casamento, o AMOR conjugal, é um caminho promissor de superações e para o bem e melhor viver! E o diálogo é um grande facilitador das relações, do amor e do amar!