Amor-próprio: Entre a autoestima e a autocompaixão

Por Juliana dos Santos Soares

27/06/2018

 

A flor de lótus é um símbolo interessante da autocompaixão. Uma beleza que nasce da lama.

No último texto publicado aqui no Ser em relação, eu falava de dia dos namorados e do amor, da forma como supervalorizamos e romantizamos os relacionamentos amorosos e da importância de nos relacionarmos bem conosco, em primeiro lugar. Se você quiser ler, clique aqui.

Hoje quero dar continuidade ao assunto e falar sobre o tema da nossa relação conosco, da forma como nos tratamos e consideramos. Falaremos sobre amor-próprio, passeando entre a autoestima e a autocompaixão.

O termo Autoestima, muito abordado na literatura psicológica e nos consultórios de Psicoterapia, refere-se, de forma bem simples, à estima que nutrimos por nós mesmas/os – a valorização e afeto que nos damos. E, por muito tempo, nós a perseguimos como algo muito importante para sermos felizes.

Porém, mais recentemente a autoestima vem sendo questionada como algo tão essencial para a felicidade. Estudos vêm sendo feitos, e atualmente muito se fala sobre autocompaixão.

Eu descobri o termo de forma mais séria há poucos anos, enquanto lia o (excelente) livro da Brené Brown: A arte da imperfeição. Lá ela aborda a importância de abandonar o perfeccionismo e cultivar a autocompaixão, e foi lá que eu conheci a Kristin Neff, pesquisadora sobre o tema. De lá para cá eu estudei um bocado a mais, conheci e li o livro da Kristin Neff (Autocompaixão: Pare de se torturar e deixe a insegurança para trás), lançado em 2017 aqui no Brasil, e tenho praticado exercícios de autocompaixão diariamente, depois de ter feito um curso do programa de Mindful Self-Compassion, elaborado por Kristin Neff e Christopher Germer. Então, falo de um bom lugar para recomendar que você conheça melhor.

Deixo que a própria Kristin Neff apresente o tema, no vídeo a seguir. Vale assistir, antes de seguir a leitura:

Na ocasião em que escrevi esse texto, linkei uma outra fala da Neff, uma conferência TEDx de 2013. Infelizmente o vídeo não está mais disponível, e o que encontrei no YouTube não tem legendas em português… Aqui eu destaco alguns pontos desse outro vídeo (se quiser assitir, clique aqui):

  • De acordo com Kristin, a autoestima é uma avaliação global de autovalor por meio de julgamentos. “Sou uma pessoa boa? Ou sou ruim”? Assim, para termos uma autoestima elevada, precisamos nos sentir bons, especiais, acima da média. E isso é um problema sério, já que nos tornamos dependentes de nosso bom desempenho para nos sentirmos dignas/os de amor.
  • Nessa cultura da autoestima passamos a priorizar o individualismo, a comparação com outras pessoas, a competição. Deixamos de lado a dimensão da coletividade, da humanidade compartilhada, que nos diz que mais um monte de gente passa por problemas semelhantes aos que passamos, ou por outros. No fundo, por mas que sejamos únicas/os e devamos ser protagonistas da nossa história, todo mundo também é. Somos “mais um/a na multidão”. E tendemos a olhar para isso com olhos de pavor e humilhação (ninguém quer ser “mais um/a”), mas aí também está presente a perspectiva da conexão, do pertencimento.
  • A autocompaixão, diferentemente da autoestima, promove o amor da pessoa por si mesma, não por causa de sua performance, não porque ela arrasa e merece admiração, mas porque ela é ela, um ser humano digno de amor, aceitação e respeito. Não que a autoestima seja de todo ruim, mas a relação de autocompaixão tende a ser mais inteira e genuína.
  • Kristin levanta três componentes da autocompaixão:
    • Atenção plena (mindfulness) – reconhecer e aceitar o que se passa conosco, o nosso sofrimento, sem ignorarmos ou sufocarmos, por um lado, e sem nos superidentificarmos ou nos apegarmos, por outro.
    • Humanidade comum – O sofrimento e a imperfeição fazem parte da vida; não são coisas que acontecem só conosco, porque somos fracassadas/os. Isso nos conecta. Não estamos sós.
    • Gentileza consigo mesma/o – sermos bondosas/os conosco em nossos sofrimentos e fracassos, ao invés de fazer autojulgamentos árduos.
 O livro da Brené Brown e o da Kristin Neff

Como trabalho com Psicoterapia, vejo muitas relações desse tema com processos terapêuticos, de crescimento e transformação. Você pode ler mais sobre isso nesse outro texto aqui. Além disso, indico mais duas páginas para você conhecer melhor o tema, se quiser:

O site da Lúcida Letra, a editora que publicou o livro da Kristin Neff. Nessa página tem uma escala de autocompaixão, em que é possível mensurar como você lida consigo em momentos difíceis. Interessante. Para acessar, clique aqui.

O site da Caroline Bertolino, psicóloga que desenvolve um trabalho de autocompaixão aqui no Brasil, seguindo a metodologia de Neff e Germer. Foi com ela e com a Marta Alonso, da Espanha, que fiz um trabalho intensivo de autocompaixão no início desse ano. Lá tem divulgação de uma nova turma desse intensivo e tem também algumas práticas de autocompaixão, pra você conhecer. Muito bom! Para acessar, clique aqui.

E aí? Como esse conteúdo toca você? Você se move mais pela autoestima ou pela autocompaixão na vida? Compartilhe nos comentários! Será um prazer saber o que você pensa sobre o tema e trocar mais ideias.