A teoria triangular do amor

Por Juliana dos Santos Soares

05/07/2020

 

O que é o amor? Pergunta difícil de responder, né? Às vezes entendido como um sentimento, outras vezes como ação, até mesmo como arte a ser desenvolvida… O certo é que a vivência do amor mexe imensamente conosco. E há uma diversidade enorme de formas como ele se manifesta nos relacionamentos. Hoje apresento a Teoria Triangular do Amor, desenvolvida pelo psicólogo Robert J. Sternberg, com a intenção de trazer (mais) uma contribuição que nos ajude a refletir sobre nossa maneira de amar.

Para Sternberg, o amor não é uma coisa única e simples. Ele o representa como um complexo formado por três componentes: a intimidade, a paixão e um componente duplo: decisão e compromisso. Esses componentes interagem entre si, sendo representados metaforicamente como vértices de um triângulo.

  • Intimidade: Refere-se aos sentimentos de conexão e vínculo emocionais – o “quentinho” dos relacionamentos. Inclui, entre outras coisas: desejo de promover o bem-estar da outra pessoa, grande consideração por ela e valorização da sua presença na própria vida, felicidade experimentada quando se está junto, entendimento mútuo, poder contar com a outra pessoa em caso de necessidade e prover esse apoio também. É um componente estruturante da relação.
  • Paixão: Refere-se às fontes de motivação e excitação que levam à experiência de apaixonar-se – é o componente mais ligado ao fisiológico em um relacionamento, o “quente”. Inclui um intenso desejo de união com a outra pessoa. Aqui há elementos físicos, que num relacionamento de casal apontam para o desejo sexual e afins; mas há também manifestações de natureza psicológica, que estão presentes nesse e em outros tipos de relacionamento, como grande excitação mental e necessidade de autorrealização.
  • Decisão & compromisso: Refere-se, em curto prazo, à decisão de que se ama alguém; e em longo prazo, ao compromisso de manter esse amor. É um componente mais cognitivo – o “frio” dos relacionamentos.

Os tipos de amor

A partir da interação entre esses componentes, temos os diferentes “tipos” ou perfis de amor:

  • Não-amor: ausência dos três elementos. Caracteriza a maioria das nossas relações pessoais, como meras interações.
  • Gostar/carinho: Está presente apenas o componente da intimidade: proximidade, vínculo e calor, sem os componentes de paixão intensa ou de compromisso de longo prazo. É o que está presente em relações que se caracterizam como de amizade.
  • Amor apaixonado / Entusiasmo passageiro: Está presente apenas o componente da paixão. É o “amor à primeira vista”, fácil de observar, especialmente para quem vê de fora, porque há muitas alterações de comportamento. Paixões podem surgir quase instantaneamente e se dissipar tão rápido quanto, em algumas circunstâncias.
  • Amor vazio: Está presente apenas o componente da decisão / compromisso. Comum nos relacionamentos de longo prazo, em que se perdeu o envolvimento emocional e a atração física. Aqueles casamentos que costumamos denominar “de conveniência”.
  • Amor romântico: Combina os componentes da intimidade e da paixão. As pessoas envolvidas se atraem fisicamente e também estão ligadas emocionalmente, mas sem o compromisso de permanecerem juntas a longo prazo.
  • Amor companheiro: É a combinação dos componentes da intimidade e da decisão/compromisso. Essencialmente uma amizade comprometida de longo prazo, do tipo que frequentemente encontramos em casamentos em que a atração física (maior fonte de paixão) desapareceu.
  • Amor fugaz: Combina os componentes da paixão e da decisão/compromisso. É o tipo de amor que se associa a histórias Hollywood ou a namoros de turbilhão, em que o casamento acontece rápido e o compromisso é assumido com base na paixão. É fugaz no sentido de que não há o elemento estabilizador da intimidade, que não se desenvolve tão instantaneamente quanto o da paixão. Se esse elemento não se somar ao relacionamento, ele corre o risco de não sobreviver por muito tempo, por isso o adjetivo fugaz.
  • Amor pleno ou consumado: Resulta da plena combinação dos componentes da paixão, intimidade e decisão/compromisso. É o tipo de amor que muitas/os de nós almejamos, especialmente em relacionamentos românticos. Alcançar esse tipo de amor não é garantia de que ele irá durar dessa maneira – para isso, é necessário cultivá-lo ativamente.

Sendo assim, há muitos triângulos possíveis: os equiláteros, em que os três vértices estão em equilíbrio, e aqueles em que um dos lados é maior do que os outros (ou dois maiores do que um). Além disso, se considerarmos que nos relacionamentos amorosos estão envolvidas pelo menos duas pessoas, há muitas variações prováveis: uma pessoa do relacionamento pode vivê-lo como um tipo de amor e a outra (ou outras) viver de outra maneira. Podemos ter um estilo de amor como ideal, mas na realidade sustentarmos um outro tipo de relação. Ou podemos ter uma vivência de amor, e a(s) outra(s) pessoa(s) na relação nos perceber(em) de uma forma diferente da que sentimos, e vice-versa, talvez porque tenhamos dificuldade em expressar aquilo que sentimos, ou talvez por distorções de percepção e comunicação.

Acredito que esse material pode nos conduzir, todas/os, a muitas reflexões sobre nossos ideais e vivências de amor. Você já tinha olhado para o amor sob esse ponto de vista? Se desejar, compartilhe nos comentários suas percepções. Será muito bem-vindo para um espaço de construção conjunta!

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

Sternberg, R. J. (1986). A triangular theory of love. Psychological review, 93(2), 119-135.

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