Por Juliana dos Santos Soares
24/08/2017
No dia 27 de agosto comemoramos o Dia do Psicólogo. Essa é a data que marca a regulamentação da profissão no Brasil, em 1964. Quero, hoje, fazer uma exposição diferente. Falar desses e dessas profissionais em sua dimensão humana, um lado mais pessoal, que acaba se refletindo no profissional.
Falo do lugar da Psicologia Clínica: sou psicóloga e psicoterapeuta, mas a Psicologia tem diversas outras áreas de atuação: organizacional e do trabalho, escolar/educacional, hospitalar, jurídica, do esporte, social, do trânsito, neuropsicologia e mais algumas. E todas merecem os nossos parabéns nesse dia. Do lugar de psicóloga clínica, elejo o mito de Quíron, o curador ferido, para falar de mim e de nós.
Na mitologia grega Quíron era o maior dos centauros, aqueles seres que tem metade do corpo de cavalo e o tronco e cabeça de humano. Ele era diferente dos outros centauros: era filho de Cronos, o deus do tempo, e por isso era imortal. Enquanto os outros tinham uma forte natureza selvagem, Quíron era sábio, inteligente e bondoso. Era um respeitado tutor e curandeiro. Um dia, foi acidentalmente ferido por uma flecha do herói Hércules. A flecha estava envenenada, um veneno mortal. Quíron não morreu, mas pela força do veneno, sua ferida jamais se curou. Ele convivia com essa ferida todos os dias de sua vida, e justamente por isso era tão bom em curar as pessoas: sabia o que era estar ferido. Por meio da própria dor, era capaz de compreender a dor dos outros, com empatia e compaixão.
E nós, terapeutas? Nós não curamos ninguém. Mas somos instrumento de cura, no sentido de ajudarmos as pessoas que nos procuram a encontrarem o próprio caminho para uma vida mais feliz e equilibrada, através do autoconhecimento e autonomia.
Nosso caminho de formação profissional envolve muito estudo e domínio de técnicas, mas mais do que isso, boas terapeutas fazem um bom trabalho interno, de identificar e cuidar das próprias feridas, para estarem disponíveis e inteiras no trabalho com quem busca seus serviços.
Quantas vezes, ao escutar alguém, me identifico com o que está sendo dito? Quantas vezes me emociono junto? Quantas vezes sou tocada em diversos sentimentos, algumas vezes a ponto de me colocar entre parênteses, ali na sessão, com o seguinte lembrete: “Depois eu vou levar isso para a minha própria terapia”?…
Ser psicóloga clínica me faz abstrair de mim mesma e dos meus problemas, para me concentrar nas questões da pessoa à minha frente, com a intenção de ajudá-la a se encontrar. E, ao mesmo tempo, me faz entrar em contato com a natureza humana, tão nossa, e com isso a me conhecer melhor, a ter mais elementos para conviver com minhas dores e curar minhas próprias feridas.
Sou grata pela minha caminhada. Sou grata a colegas que me acolhem e ajudam, quando preciso. E também às pessoas que confiam em mim, numa relação terapêutica, para lhes ajudar. Parabéns para todas e todos nós, caminhantes nessa jornada de crescimento!
Obs.: Eu me importo com questões de gênero, inclusive quando escrevo. Por isso, quando me refiro a pessoas eu escrevo no feminino. Mas esse texto serve para psicólogas e psicólogos.
Muito enrequecedor o texto
Que bom que gostou, Adriana!
Obrigada por seu retorno.