Amor. Simples assim

Por Juliana dos Santos Soares

09/02/2012

“Todas as perturbações emocionais consistem em perturbações do amor”.
Cláudio Naranjo

Eu às vezes ajo como se não precisasse de amor.

Sei que não é privilégio meu. Sou terapeuta e tenho tido a oportunidade de ouvir as pessoas a respeito da sua vida, suas alegrias e amarguras. Sem contar os amigos e familiares. E o que percebo, afinal, é que o comum nos sofrimentos individuais, por mais diferentes que sejam os seres, é uma sensação de desamor, de que o bom da vida pode nos faltar. Cada um de nós com o seu jeito e seus mecanismos de defesa, mas a maioria vivendo na lógica da escassez. É como aquela propaganda de cigarros veiculada há alguns anos: “Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum”. E o pior é que, seguindo essa lógica, ficamos cada vez mais “cada um na sua”, mesmo. Queremos sempre mais e acreditamos que o mais que queremos não chegará, e que portanto para o conseguirmos precisamos (vejam bem) competir com o outro, vestir máscaras e empunhar armas. Para evitar a dor da frustração, fazemos de conta que não precisamos do que nos é essencial e nos distanciamos das pessoas. Alimentamos jogos de poder e dominação, cultivando a ilusão de que ganhá-los nos fará melhor. É assim na nossa vida afetiva, privada. Obviamente, expandimos esse jeito de viver para a esfera pública – vejam-se nossos conflitos e tensões sociais, desse e de todos os tempos.

Mas voltemos ao Amor, o tema desse escrito. Muitas vezes, ajo como se não precisasse dele. Balela, eu sei. Mas quando vejo, já fiz de novo aquele ar blasé, já deixei de valorizar quem está por perto como se tanto fizesse, por mais que eu saiba que não é assim aqui dentro. Que essa é uma necessidade essencial da vida. Mais do que isso, é TUDO de que preciso, de que precisamos. Os Beatles também já sabiam e nos cantaram essa há muito tempo. Mas saber não basta. É bom, muito bom. Desperta para observar a realidade como ela é e ousar o diferente.

O diferente… Tenho tido experiências mágicas e reveladoras nos últimos tempos. Uma delas com um grupo de companheiros muito especial. Um grupo de pessoas que compartilham a busca por serem a melhor versão de si mesmas. Sem deixarem de ser quem são, mas buscando o melhor de si. Sem violência. Todos atentos à proposta de olhar para si e para os outros além da “casca”, olhando no coração*.

E aí, olhando no coração… O amor acontece. No olhar, em cada gesto, no toque, em risos e lágrimas, na respiração, no pulsar, único e comum. Transformando-nos naquilo que já somos e apenas não tínhamos a coragem – palavra que tem a mesma raiz de coração – de experimentar. Tanto amor, mas tanto, que dá vontade de contar como foi, mas não encontro uma forma de me fazer compreender. Só sei que descobri que o amor é simples, muito simples. Que é “só” ser eu, conectada com autenticidade àquilo que experimento no presente, buscando aquilo de que preciso e colocando limites naquilo que me faz mal.

Se algo ou alguém me faz bem, posso me aproximar, gentilmente.

Se algo ou alguém me faz mal, posso me retirar com a mesma gentileza.

Posso estar junto e posso estar só, com amor.

Simples assim.

Descobri também que todo o resto, todos os jogos de poder, de vaidade, as disputas por território e por ter razão, são o difícil. Artimanhas malucas, que nos demandam muita energia, para não lidarmos com nosso real e maior medo: o do desamor. É uma ilusão. Gostei mais de fazer o simples.

Escrevo para me lembrar.

 

*Sou grata ao Gerardo Ortiz, que coordena um espaço psicoterapêutico chamado Yut Ontonal – significa “Dentro do coração” – e aos companheiros Inspiraldos, pela constante inspiração.

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